Exceto pelos fãs ardorosos, pouca gente leria este post se o
título fosse “Mapa Natal de Ronald James Padavona”. Só que esse é o nome
verdadeiro de Ronnie James Dio, um sujeito baixinho, mas com um vozeirão digno
de óperas, que nasceu a 10 de julho de 1942 (horário desconhecido) em
Portsmouth, New Hampshire, EUA.
Após passar por algumas bandas menos conhecidas, desde a
época em que estava no ensino fundamental – começou cedo a batalhar na sua
jornada pelo Rock’n’Roll – Ronnie James Dio ganhou destaque com a banda Elf,
emplacou com Ritchie Blackmore a melhor fase do Rainbow, teve a nada fácil
missão de substituir Ozzy Osbourne nos vocais do Black Sabbath e formou a banda
que leva seu nome (Dio).
Creditado como quem passou a utilizar o gesto dos chifrinhos
(indicador e mindinhos elevados, demais dedos dobrados, formando uma cabeça com
chifres) como indicativo do Heavy Metal, Dio partiu deste plano de existência
em 16 de maio de 2010, devido a um câncer de estômago. Deixou inúmeros
sucessos, onde as letras evocando a luta entre o bem e o mal, as referências a
ambientes medievais e mágicos e um estilo poético às vezes estranho e às vezes
surpreendente, se juntavam ao som marcante de baixo-bateria-guitarra que consagrou
o estilo Heavy Metal. Tudo isso estava sempre muito bem amarrado pela voz
poderosa e presença magnética do Elfo, como algumas vezes era chamado.
Podemos ter uma ligeira ideia do seu trabalho ouvindo
Rainbow In The Dark (http://www.youtube.com/watch?v=zQzNBTukO0w),
que além do típico som produzido por Dio, tem um trecho que traz uma das
melhores definições que já vi sobre a incompatibilidade e falta de
entendimento: we’re a lie, you and / we’re words without a rhyme (somos uma
mentira, você e eu / somos palavras sem rima).
Entre as várias biografias de Dio disponíveis na internet, vale
a pena olhar a da Wikipedia (http://en.wikipedia.org/wiki/Ronnie_James_Dio)
e uma extensa, completa (e em português!) no site Delfos (http://www.delfos.jor.br/conteudos/index_interna.php?id=7759&id_secao=6&id_subsecao=26).
E agora vamos ver o mapa natal do pequeno grande Dio.
Dio tinha o Sol em Câncer, o que fala de tendência forte a
ser provedor, cuidador e zelar pela sua família. As biografias de Dio pouco –
ou nada – falam de escândalos, excessos e demais asneiras tão comuns entre os
Rock Stars que viajam na maionese; mas falam dele ter adotado um filho com sua
primeira esposa, e de ter ficado com a segunda até o fim de seus dias. Ou seja,
parece mais um cara-família que um cara-balada. E esse Sol também indica
ligação forte com o passado – e os temas medievais das letras e dos videoclipes
de Dio são bem coisa de passado, mesmo.
Outra coisa que chama a atenção é que o Sol nesse mapa não
faz aspecto a nenhum planeta: é um Sol feral, que pode oscilar entre a apatia –
a negação ou falta de expressão de sua essência – e a excitação, a expressão
exacerbada do seu ser; é desbotar ou queimar até a última lenha. E Dio fez o
que Neil Young cantou em My, My, Hey, Hey: it’s better to burn out / than to
fade away (é melhor queimar tudo / do que desbotar): o baixinho, com mais de
cinquenta anos de carreira, foi incansável até pendurar compulsoriamente o
microfone aos 67 anos. Ele era outro desses velhotes com fogo nos olhos, paixão no
coração e com uma gana enorme de fazer o que gosta.
Câncer compõe com Capricórnio – seu signo polar complementar
– o chamado Eixo da Estrutura, e estrutura ou base alguma se faz da noite para
o dia; Dio conquistou o sucesso e a fama, de verdade, quando aceitou o convite
de Ritchie Blackmore e foi para o Rainbow, em 1975, quando já tinha dezessete
anos de carreira. O cara foi persistente, jamais deixando de lutar pelo que
queria, e nunca se acomodou com o que tinha.
A Lua em Gêmeos fala de alguém inteligente, inquieto, mutável.
Fazendo conjunção a Mercúrio, Vênus e Saturno, e recebendo sêxtil de Marte, o
quadro é de energia, inquietação, ansiedade, disposição para trabalhar no que
gosta, pensamento rápido e inquieto, muitas amizades e ao mesmo reserva – o que
pode explicar a abundância de informações sobre sua carreira e a escassez sobre
sua vida pessoal: Dio, o cantor/compositor/showman, escondia e ofuscava Dio, o
ser humano comum com família e amigos.
Mercúrio em Gêmeos está em domicílio, o que só dá mais força
para a inquietação, inteligência e variedade de que já falamos, principalmente
por estar em conjunção com Júpiter, o planeta cuja função primordial é ampliar
tudo que toca. Uma quadratura com Netuno pode fazer esse Mercúrio fantasiar
muito, mas também ficar bastante criativo. Porém, a manifestação mais
significativa dessa quadratura Mercúrio-Netuno (e esse Netuno está em Escorpião) talvez apareça
nas constantes críticas que Dio fazia à Bíblia, ao Cristianismo e mesmo ao
Budismo e outras religiões estabelecidas.
Vênus em Gêmeos dá esse tom de muitas amizades, mas poucas
íntimas, e baseadas no conhecimento e no aspecto mental. Sêxtil com Marte dá
energia e disposição para estabelecer e manter essas amizades, e a conjunção com
Saturno coloca seriedade nessa receita. Mesmo tendo várias rusgas com o
pessoal com quem trabalhou, houve reconciliação com boa parte deles ao longo
dos anos, pois o baixinho, além do carisma, tinha muito profissionalismo em seu
trabalho.
Saturno e Urano completam o stellium em Gêmeos. Stellium é
quando três ou mais planetas estão muito próximos, e Dio tinha cinco planetas
em Gêmeos, o que coloca um peso muito grande nesse signo, mesmo com o Sol estando em Câncer. Ora, Gêmeos está relacionado à inteligência,
capacidade de se expressar e de se comunicar, inquietação, agilidade, versatilidade,
e o que vemos disso na vida de Dio? Bom, o cara gostava de letras que contassem
histórias, desde a época do Rainbow; tocou trompete e baixo antes de se dedicar
“apenas” a cantar; passou pelas diversas fases do Rock desde a ingenuidade dos
anos 50, até o megashowbiz global tecnológico informatizado conectado dos anos
2000... precisa falar mais?
Com Marte e Plutão em Leão, temos novamente indicadores de
grande energia e de não se conformar em receber ordens, como foram os casos em
que ele se demitiu do Rainbow e do Black Sabbath quando não aguentava mais os “chefes”
Blackmore e Iommi.
Em resumo, o baixinho era invocado, incansável, e não
desistia. Sorte nossa e de quem gosta do bom e velho – e por isso sempre atual –
Rock’n’Roll.
Até a próxima!
by Cao